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90 anos a trabalhar no barro

Exposição “Maria Esteves-Um Século de Vida no Barro”

Maria Esteves, de 100 anos, expõe no Posto de Turismo.

Maria Esteves está praticamente a fazer 101 anos (27 de Junho) e ainda continua a trabalhar no barro, a arte que começou há mais de 90 anos, quando ainda era uma "catraia" a brincar pelos "caminhos" de Galegos Santa Maria. Com pouco mais de sete anos, Maria Esteves Gonçalves Barbosa começou o ofício do pai e a arte com que sustentou nove filhos. Depois de uma vida nada fácil e conturbada como a de todos nos inícios do século XX, Maria teve uma infância como a maioria na altura: começou a trabalhar quando ainda mal tinha mais que uma mão cheia de anos. "O meu pai fez-me uma gamela de madeira e comecei a trabalhar o barro. A minha primeira peça foi um galinho com apito, já não sei se saiu bem ou não, mas lá fui aprendendo com o meu pai", disse Maria Esteves. Poucos anos depois de se iniciar na arte de moldar o barro, Maria começou a fazer as feiras com a família. Um pouco por todo o lado, as viagens faziam-se complicadas e demoradas. Entre os mercados de Bragança, para onde a família rumava durante um mês, na época do natal, até a locais mais perto de casa como Ponte de Lima: "Saíamos ao final de almoço de domingo e só chegávamos já era noite. No dia seguinte, íamos vender para a feira. Nós íamos a pé e as loiças iam no carro de bois". Pelas freguesias vizinhas, a venda de loiça fazia-se com a canastra à cabeça, de porta em porta. Depois de vender, muitas das horas da noite eram passadas entre tomar conta dos filhos e a fazer mais peças em barro para as vendas nos dias seguintes.

Entre netos e bisnetos, Maria Esteves tem mais de 60 descendentes

Mas antes dos filhos e do casamento, por entre a vida dura de trabalho, Maria Esteves encontrava, ainda, tempo para "namoriscar", tendo mesmo tido "quatro ou cinco namorados". Maria "caiu a dizer que queria casar" com quem já tinha "namorado qualquer coisa". Os pais não gostavam dele pelo facto de já ter sido casado, mas não eram os únicos a não se achar grande piada ao viúvo: "Um dia lá lhe disse que sim, mas achava-o feio, tinha muitas sardas", acrescentou, com um sorriso malandro na cara. O namoro singrou e Maria viria a casar-se em 1933: da união nasceram nove filhos. A centenária tem, ainda, dois trinetos. E como quem sai aos seus não degenera, a maioria dos filhos de Maria Esteves seguiram as pisadas da mãe no que toca ao ofício de trabalhar o barro. A família cresceu e Maria Esteves tem agora, entre netos e bisnetos, mais de 60 descendentes. Viúva há 23 anos, a artesã nunca baixou os braços e a prova disso pode ser vista e apreciada no Posto de Turismo de Barcelos, onde Maria Esteves tem patente, pela primeira vez, uma exposição. Entre as peças feitas, na sua maioria para a ocasião, como o coreto, é possível encontrar alguns "galinhos com apito", réplicas da primeira peça da artesã. A exposição, intitulada "Maria Esteves – Um Século De Vida No Barro", pode ser apreciada até 6 de Maio, de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 18h; aos sábados e feriados entre as 10h e as 13h e as 14h e as 17h; aos domingos, das 10h00 às 13h e das 14h às 16h.

Cultura

Barcelos Popular
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19 de Abr de 2012 0

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