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A tradição dos vasos

Festa a Santa Justa, em Negreiros

Normalmente, costumo chegar às romarias, na noite de sábado, quando a festa vai adiantada e o povo já está mais animado.

Este fim-de-semana, contudo, alterei os hábitos e cheguei a Negreiros para assistir às festas em honra de Santa Justa antes de baterem as dez da manhã de domingo. Por essa razão, perdi a anunciada versão feminina do Quim Barreiros, mais conhecida pelo nome de “Rosinha” que por ali terá andado de véspera e fiquei sem saber se ela andou “Com a Boca no Pipo”, se só queria fruta ou até se levou o pacote ao seu amor.

É uma falha imperdoável, bem sei, mas fica aqui prometido que na primeira ocasião lá estarei para ver e contar em que ponto terminam essas histórias do pacote e do pipo da “Rosinha”. Paciência. Desta feita, valores mais altos se levantaram.

As festas não são só feitas de folia e brejeirice, têm em si muito de religioso e tradicional, e muitas vezes – se calhar até quase sempre – aqui reside não só a sua essência, força e razão para resistir à inútil erosão tentada pela pretensa superioridade intelectual dos modernismos diletantes que campeiam pelos centros urbanos.

Negreiros, mais do que muitas freguesias do concelho, reúne essa identidade única. Alia, como poucas, o religioso ao profano sem conflitos de maior e tem na tradição do cortejo dos vasos a sua marca distintiva. Esse ex-libris que a distingue das demais já tem quase oitenta anos. Nem sempre se realizou – é certo – mas desde 1968 até à data que se realiza sem interrupções.

As jovens solteiras – muitas delas ainda crianças – vestidas a rigor com os típicos trajes minhotos, de faces afogueadas pelo calor e com o suor a cair em bica pelas faces belas e cândidas que só a juventude consegue oferecer, ofuscam o áureo luminoso do secular ouro familiar que se esbate nos regaços puros e virginais.

O espectáculo é único. Perto de duzentas raparigas (já chegaram a ser mais em anos anteriores), vão desfilando com o seu vaso de plantas à cabeça por entre a multidão, numa imensa mancha de frescura e cor que só termina no cemitério junto à sepultura dos seus familiares.

Já tinha estado noutras ocasiões em Negreiros e também já conhecia a tradição do cortejo (ou procissão?) dos vasos. No entanto, nunca tinha assistido ao desfile. Confesso que fiquei devoto. E se em próximos anos aqui tiver que vir em trabalho já sei o que não posso perder. Mesmo que muitas “Rosinhas” por ali apareçam.

Cultura

Barcelos Popular
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03 de Set de 2009 0

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