Depois de dez dias, terminou a 29ª Mostra de Artesanato e Cerâmica de Barcelos com a consagração e reconhecimento público de alguns dos melhores artesãos do concelho. A 1ª Gala do Artesanato de Barcelos aconteceu sábado à noite e juntou, no Parque da Cidade, milhares de pessoas. Júlio Alonso recebeu o mais importante galardão da noite: o troféu Carreira. Depois de mais de sete década a trabalhar o barro preto, o artesão de Galegos Sta. Maria subiu pela primeira vez ao palco para receber o galardão que o distinguiu entre muitos. Neto de espanhóis, cedo aprendeu com o avô e o pai a arte de moldar o barro. De uma rotina fácil de se desenhar, Júlio Alonso toma o pequeno-almoço e segue para o ateliê onde demora cerca de oito horas a concluir uma forNada: quatro de preparação do forno, para atingir uma temperatura entre os 900 e os mil graus e outras tantas de cozedura do barro. Depois é o fumo que lhe dá a cor negra. O artesão que "nasceu no meio do barro", enquanto sua mãe ajuda o pai a fazer a loiça, lamenta não ter quem queira seguir o seu ofício. O homem que disse ser "o mais jovem de entre os artesãos", conta já com 83 anos e, enquanto as mãos e as pernas puderem, Júlio Alonso vai continuar a trabalhar e espera que o troféu que recebeu sirva de incentivo para encontrar seguidores da sua arte. Neste sentido, Miguel Costa Gomes disse que se tratou de uma gala para premiar, mas também para incentivar os artesãos. "É possível continuar com o artesanato, se não for pela descendência, que seja pela formação", frisou o edil.

Mas de muitos outros troféus foi preenchida a noite de sábado, a EMEC (Empresa Municipal de Educação e Cultura) e o município atribuíram sete distinções, duas menções honrosas e três prémios, ao som do Grupo de Câmara da Banda de Música de Oliveira, acompanhada à voz por Ana Sofia Vintena e José Fernando Vale. Nelson Oliveira arrecadou o galardão de Inovação, pela peça onde está representada uma galinha a dar à luz. Já o troféu Revelação foi entregue a João Lourenço, também oleiro de profissão. Ar de surpresa, emoção e palavras vagas foram as reacções mais marcantes e sentidas por todos quantos subiram ao palco para serem agraciados. Houve até quem disse-se "estou surpreendido. Não percebo, não percebo, porque recebi este prémio!". A gala do artesanato "foi uma aposta verdadeiramente ganha", referiu Elisa Braga, administradora da EMEC. "Agora vamos ter a oportunidade de premiar os nossos embaixadores ao longo dos anos", acrescentou.

No que toca aos dez dias de artesanato, Elisa Braga falou numa "adesão fantástica, onde os próprios objectivos foram superados".

Está a ser ponderado o aumento do número de artesãos

Este ano, o certame contou com 98 artesãos (70 de Barcelos e 28 de fora), mas a organização não descora a possibilidade de alterações no espaço, para poderem acolher mais mestres. "É apenas uma possibilidade, porque há vários critérios a ter em conta. Mas quem sabe se para o ano, não conseguimos criar uma nova dinâmica para recebermos mais artesãos. Neste momento há mais inscrições que lugares disponíveis", disse Sandra Teixeira, administradora da EMEC.

Com o objectivo de se superarem, a organização promoveu dez dias repletos de tradição e memórias. Além da gala, as rusgas de concertinas, os cantares ao desafio e os ranchos folclóricos atraíram diariamente milhares de pessoas ao Parque da Cidade. Este ano, a Mostra de Artesanato e Cerâmica de Barcelos terminou com uma actuação de "nuestros hermanos", o grupo de gaitas "A Carballeira", de Ourense, Galiza.