“Isto da continuidade é uma brincadeira. Chega até a ser falta de ética”
Hugo Vieira, antigo atleta do Gil Vicente, 35 anos...
José Fanha tem sido participante activo na Feira do Livro de Barcelos.
N
atural de Lisboa, JoséComo impulsionador dos hábitos de leitura junto do público mais jovem qual a fórmula para resistir à actual crise de valores culturais?
Insistir na criação e consolidação de valores éticos e morais. Insistir na importância da literacia em geral e na leitura em particular para o desenvolvimento social e económico do país. Insistir na necessidade de preservar as memórias do nosso passado para que o futuro não se torne num muro intransponível.
De que forma explica tamanha dedicação à sua actividade?
Por um lado, talvez seja uma forma de militância, se se quiser. Por outro, acho que sou "passador" de um vício maravilhoso que se chama leitura e do qual estou gravemente infectado.
Numa entrevista disse: "Apesar de ser um homem de palavra e de palavras, acho-me sem saber como expressar a minha emoção". Depois de tantos anos a fomentar a literacia pelo país acha que ainda não o conseguiu fazer?
Sou apenas um dos muitos resistentes. No entanto, se pretendemos tornar-nos numa sociedade de informação e conhecimento, será necessário que a literacia e a promoção da leitura se tornem num desígnio nacional claramente assumido pelos media, pelas entidades políticas e pela classe empresarial e sejam assumidos como um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento do país.
De todos os projectos artísticos em que participou qual o que lhe deu mais prazer?
O que talvez me tenha dado mais prazer terá sido a participação no grupo de teatro "Lídia a mulher tatuada e os seus actores amestrados". Foi uma experiência divertidíssima e radical.
Existe algum em particular que ainda queira realizar?
Gostaria muito de dirigir um grupo de teatro eventualmente universitário que pudesse explorar a estética descabelada da "Lídia".
Aos 19 anos declamou poesia ao lado do Zeca Afonso. De que modo é que este episódio o influenciou?
Para mim e para a minha geração o Zeca era um mito, um ídolo e um exemplo a seguir. Ética e estética estavam intimamente ligadas na sua acção cultural. Ter sido seu humilde companheiro, quando ainda era um jovenzinho, levou-me a consolidar uma matriz fortíssima na forma de me relacionar com a arte, com o público, com o pensamento e a acção cívica ou política. Esta matriz é a que ainda guia os meus passos e a minha vida.
Sendo um comunicador de emoções e privilegiando o contacto humano e a troca de opiniões, quais as maiores mudanças que sentiu ao longo dos anos no exercício da liberdade de expressão?
Eu sempre fui livre. Mesmo quando o país estava preso. A pior prisão é a que vem de dentro. A dos que se auto-censuram por calculismo. A dos que se vendem por um prato de lentilhas, por um emprego, por um cargo político… A estupidez, a mesquinhez, a incapacidade de voar e pensar pela sua própria cabeça é a melhor forma de esquecer os sagrados valores da liberdade. A grande informação de hoje em dia está presa aos grandes interesses económicos e, por isso, está muito longe de ser livre.
Qual a função dos livros nessa demanda pela liberdade?
Ler será sempre um acto libertário de alegria e festa, de encontro de cada um com a diversidade do mundo, um acto de transgressão de fronteiras, de inquietação, de instalação da dúvida. Não é por acaso que todas as ditaduras queimaram livros.
É natural de Lisboa mas sente um especial encanto pelas gentes do norte. Quais as particularidades que o encantam?
Eu sou português. Sou de Lisboa, do Alentejo, do Minho, de Trás-os-Montes… O que me encanta no Norte e no Sul é a variedade de paisagens, de hábitos, de músicas… E tudo vivido dentro de uma mesma língua e de uma mesma identidade que nos distingue de todas as outras.
É um habitual visitante à cidade de Barcelos. O que o seduz?
É muito forte, quase excessiva, extravasada, festiva, colorida, quente, individualista, afectiva, amorosa…
Que mensagem gostaria de deixar a todos os amantes das palavras?
Que procurem usá-las como deixando que a maravilha lhes escorra nas veias. Mas também com muita atenção ao perigo para o qual um cartaz do Maio de 68 já nos avisava: "Cuidado! Os ouvidos têm paredes!"
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