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"Pleno emprego é possível"

Francisco Lopes defende trabalhadores

O candidato à Presidência da República apoiado pelo PCP defende que Portugal só sai da crise se apostar na produção nacional, criação de emprego com direitos e distribuição da riqueza com justiça.

Que análise faz do cenário de crise actual?

Na realidade mundial há um traço claro do capitalismo, do seu carácter explorador, agressivo. E há um aproveitamento da dinâmica da globalização capitalista para promover uma regressão social imensa, designadamente nos países da Europa e com maior reflexo em Portugal. A isto associa-se um rumo de integração europeia que pôs em causa interesses vitais do país, e sucessivos governos nas últimas três décadas e meia ao serviço dos grandes grupos económico-financeiros que conduziram o país a uma situação que é de declínio nacional e profundas injustiças sociais. .

O que pensa das chamadas medidas de austeridade?

Não gosto de lhes chamar medidas de austeridade. Verdadeiramente o que está a acontecer este ano, e agora o que está presente no Orçamento de Estado, é um pacote brutal de injustiça social e de afundamento do país. Ao longo da última década, invocando o défice ou invocando a necessidade de medidas para combater a crise, cada pacote, cada ciclo de medidas, tem-se traduzido em mais injustiça e mais declínio do país.

O que Portugal precisa é de produzir, criar emprego com direitos e distribuir a riqueza com justiça.

Como é que isso se faz?

Apostando na produção nacional, na criação de emprego. Apostando na valorização dos direitos dos trabalhadores e dos salários, na valorização das pensões, na aposta nos serviços públicos, no aproveitamento de riquezas naturais que o país tem; potencialidades desde a floresta à agricultura, à indústria, do mar imenso que temos e ao mesmo tempo recursos humanos, desde logo mais de 700 mil trabalhadores que estão desempregados. Há aqui um problema de opção política que é preciso alterar para pôr o país a produzir. Ir buscar os recursos e aproveitar as potencialidades de Portugal e do povo português.

Defende uma política de pleno emprego?

Acho que o pleno emprego é possível. E quanto mais emprego houver, mais o país produz, mais criação de riqueza existe, menos dependência e menos défice. O Orçamento e aquilo que lhe está subjacente não serve o país, não serve o povo português, os trabalhadores portugueses e as novas gerações, mas serve sempre a especulação financeira internacional, os grandes grupos económicos e a banca. Veja que, ao longo destes últimos anos – 2004-2009 -, os anos ditos de combate ao défice, de combate à crise, dezassete dos principais grupos económicos portugueses tiveram de lucro 32,8 mil milhões de euros e que o ano passado, de um dia para o outro, o Governo decidiu despejar 4 mil milhões de euros do erário público em cima do escândalo do BPN para continuar a especulação. E agora vêm dizer que é preciso cortar. Cortar o quê? Cortar o investimento que gera produção e cria emprego? Cortar os serviços públicos? Cortar nos apoios sociais? Admite-se que haja cortes no subsídio de desemprego e no subsídio social de desemprego? Admite-se que haja congelamento das pensões e cortes nos salários?

Não há solução para Portugal sem apostar na produção, sem apostar na criação de emprego com direitos e na distribuição da riqueza com justiça.

Como reagir então às pressões internacionais a Portugal para tomar medidas de controlo das contas públicas? O país necessita de financiamento externo e só o consegue se tomar as medidas que lhe são impostas.

Argumentam-nos com inevitabilidades, que tem de ser assim. Mas é em nome dessa resposta às pressões internacionais, aos mercados financeiros, à lógica da União Europeia que de quinquénio em quinquénio, década a década, que ano a ano o país se vai afundando. É preciso que, em primeiro lugar, se ponham os interesses nacionais. O poder político em Portugal – o Presidente da República, o Governo, a Assembleia da República – tem de responder perante a soberania do povo português e não perante uma soberania anti-democrática e que não está consagrada em lado algum, que é a soberania dos mercados, dos grupos económicos e da banca. Aliás, eles fazem isto: exigem medidas de cortes nos direitos sociais e nos salários. Estas medidas levam à recessão económica, diminuição da produção e aumento de défice. E os mesmos que exigem estas medidas, no dia a seguir estão a dizer que Portugal vai entrar em recessão, logo há dúvidas sobre o seu futuro e então especula-se outra vez com os meios financeiros. Contra os especuladores o que tem de se fazer é não ceder à especulação. O principal financiamento que Portugal precisa é produzir mais, para responder às suas necessidades internas e simultaneamente para a exportação. Mas em primeiro lugar para responder às suas necessidades internas. Isto implica batermo-nos por um novo rumo na União Europeia. Implica batermo-nos pelos interesses nacionais, desde logo por um patamar mínimo de soberania do ponto de vista de questões essenciais – energética, alimentar, produtos industriais. Este conceito de mercado único em que economias mais fortes destroem as mais fracas, que há 25 anos vem destruído o aparelho produtivo português, tem de ser invertido.

E num cenário destes qual deve ser o papel do Presidente da República?

O papel do Presidente da República – do actual ao longo dos anos não foi – deve ser o de usar todos os poderes que tem – poderes importantes – para influenciar o cumprimento daquilo que são os valores essenciais do projecto que está na Constituição da República. Isto implica que os seus poderes sejam usados, não para contribuir para favorecer a especulação e o lucro e o declínio do país e as injustiças do país, mas exactamente para assegura uma mudança de rumo que passa pela aposta na produção, na justiça social, na criação de emprego, no desenvolvimento de serviços públicos.

O actual Presidente da República não o fez e por isso entendo que a sua candidatura e uma eventual reeleição não significaria apenas a continuação dos problemas; significaria o seu agravamento. Entendo que é fundamental o apoio e o voto na minha candidatura porque ela corporiza um projecto alternativo e é uma candidatura que não está comprometida com este rumo de afundamento do país, ao contrário de todas as outras. .

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
21 de Out de 2010 0

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