Fechar menu

"A pintura é um vício entranhado nas minhas mãos"

Sandra Longras

Obra da pintora foi seleccionada para a exposição itinerante da IV Bienal de Pintura do Eixo Atlântico.

A obra “Percorro des calça os olhares do Mundo”, da autoria da pintora Sandra Longras, foi seleccionada, entre mais de trezentos trabalhos, para a exposição itinerante da sétima edição da Bienal de Pintura do Eixo Atlântico, um dos eventos mais representativos do género na Península Ibérica. A tela vai percorrer agora, ao longo dos próximos dois anos, as cidades associadas da Região Norte de Portugal e da Galiza. Barcelos acolherá a mostra em Julho.
Mais um momento alto na carreira da artista plástica de Alvelos, licenciada em Artes Visuais - Variante de Educação Visual e Tecnológica para o Ensino Básico, 2º Ciclo, pela Escola Superior de Educação do Porto. Do seu currículo constam já alguns prémios e várias menções honrosas.

O que significa estar entre as melhores criações do Norte de Portugal e da Galiza?
Foi uma grande surpresa, não estava  nada  à  espera  de  ser seleccionada entre tantos concorrentes, num concurso deste  gabarito.  Fiquei  muito  contente, claro, estas distinções dão-me motivação para continuar a desfrutar da pintura.

Como surgiu a oportunidade para participar?
Surgiu a apenas dois dias do fecho das inscrições, através de uma pessoa amiga da família, que me deu conhecimento do evento e incentivou-me a participar. Respondi ao repto, procurei a obra que mais se identifica comigo neste momento, e, num dia, reuni tudo o que era necessário para poder concorrer.

A obra não foi feita, então, propositadamente para o certame?
Não, a obra que já tinha sido feita o ano passado. Foi aquela com que mais me identifiquei naquela altura.

Conhece  a obra vencedora? O que achou?
O trabalho vencedor da Ana Pais Oliveira diz-me alguma coisa, pela cor e pelo registo, acho que é idêntico ao meu, embora mais geométrico; o meu tem mais manchas e disformas.

Elegeu “Percorro descalça os olhares do Mundo”. Porquê este título?
Significa que, neste momento, estou despida de preconceitos perante o caos que domina a sociedade  actual.  É  essa  turbulência, registada em pequenos olhares, atentos a tudo, que eu procurei transmitir para a tela. Há uma clara intenção em fazer crítica social, daí a confusão de manchas e disformas. 

É um evento itinerante, que passa por várias localidades portuguesas e galegas. Isso  é gratificante?
É interessante saber que a nossa obra vai estar patente em diversas salas de exposições das cidades do Eixo Atlântico, o que significa que será vista por inúmeras pessoas. Essa itinerância até vai de encontro ao próprio título da minha obra.

A pintura é uma paixão antiga...
Sim, é verdade, é uma paixão que nasceu de mim, que não me foi passada por ninguém em especial. É curioso que eu, hoje, olho para a minha filha e vejo-a despertar para este gosto, embora as nossas origens sejam completamente diferentes... Ela já trabalha nas minhas telas e eu deixo que isso aconteça, porque sinto que ela já gosta de pintar.

É professora de EVT, na Póvoa de Varzim. A pintura é um passatempo?
É mais do que isso, é uma vontade muito própria, uma necessidade efectiva, um vício entranhado nas minhas mãos de uma maneira que não sei se conseguiria viver sem pintar. Como me relaciono diariamente com muitas pessoas, sinto  necessidade de me refugiar, por momentos, e faço-o através da pintura, que me permite extravasar aquilo que não é possível fazer em sociedade.

Pinta quando quer ou tem que estar “preparada”?
Pinto quando sinto necessidade, e só o faço quando estou realmente motivada, e isso pode acontecer a qualquer momento do dia.

Pintar ou leccionar?
Não gostaria de ter que escolher... Como não gosto de rotina, o ideal mesmo é o equilíbrio. Se vivesse só da pintura, penso que o meu processo criativo acabaria por bloquear.

Há algum artista que a influencie em especial?
Nenhum artista me influencia particularmente, haverá um ou outro que sim, como José Guimarães, pela cor. Tal como eu, ele usa cores muito fortes, muito vivas, mas o meu trabalho não tem nada a ver com o dele, são registos muito diferentes. Não pretendo seguir nenhuma corrente artística, nem nenhum artista em especial, quero pintar livremente ao meu jeito.

E Barcelos influencia a sua pintura ou nem por isso?
Sim, as minhas raízes são importantes e isso reflecte-se também nas minhas obras. Barcelos Influencia mais em termos de cores do que propriamente em símbolos.

Defina-me a sua pintura...
É  muito  emotiva,  é  uma  pintura  de  expressão,  porque vem de encontro às experiências que  vivo  no  dia-a-dia.  Não procuro  cumprir  nenhum  registo em particular, embora alguns  críticos  digam  que  isso  se  deve  ao  facto  de  eu ainda  não  ter  encontrado  a minha própria forma de expressão. Não, não é isso! Eu procuro precisamente isso, porque,  para  mim,  cada  tela é uma experiência única, cada vivência  é  uma  emoção.  A mesma vivência pode motivar trabalhos diferentes, como aconteceu  numa  recente  exposição  que  esteve  patente, na Póvoa de Varzim, sobre urbanismo. O tema era o mesmo, mas nenhuma obra se repetia,  e  isso  é  propositado, não  é  porque  ainda  não  encontrei o meu próprio registo. Nem todos os filhos são iguais, não é?

Dentro da arte, há outras formas de expressão que te atraem?
A escultura também. Já experimentei e conclui que consigo fazer a fusão entre estas duas formas de arte, como o demonstrei na Mostra de Arte Jovem de Barcelos de 2007, onde venci o primeiro prémio de pintura. Neste momento, esse projecto está um pouco parado, porque requer muito mais equipamento, mais espaço e mais tempo para o desenvolver, mas não está esquecido. A qualquer momento, revela-se.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
10 de Abr de 2008 0

Outras artigos

desenvolvido por aznegocios.pt