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"Se as outras pessoas podem escrever, porque é que eu não posso"

António Correia, encenador do Grupo de Teatro "Lírios do Neiva".

Pisou pela primeira vez o palco tinha apenas 12 anos. Hoje, 40 anos depois, é autor de peças representadas pelo grupo que encena.

Substituto de Domingos Maciel como encenador, no ano 2000, António Correia é o comandante do “Lírios do Neiva”, grupo de teatro amador, de Durrães, que completa este ano 75 anos de existência.
Entrou para o grupo, como actor, com 12 anos de idade e nunca mais parou. Durante décadas, fez parte de um núcleo que era apenas composto por homens e que o “obrigou” a representar muitos papéis de mulher até ao ano de 1998, altura em que entraram para a formação os primeiros dois elementos do sexo feminino.
Ao entrar no séc. XXI, começa, no entanto, a calcorrear novos rumos, desta vez na área da encenação. Não fugindo à linha principal de representarem, maioritariamente, peças ligadas à Igreja e à Acção Católica, António Correia encenou, entre outras, “Maldição de Mãe” da autoria dos Celesianos, “Fogo Cruzado”, “O Padre que se Drogou” e “Paixão de Cristo”, do padre João Bezerra.
No ano passado, António Correia, com a 4ª classe de escolaridade, decide aplicar na prática um sonho antigo e escreve uma peça de teatro. “A Tesoura de um Barbeiro” abriu-lhe caminho para enriquecer o seu currículo pessoal e profissional.

Como nasceu o bichinho pelo teatro?
O gosto pelo teatro corre-me nas veias desde criança. Quando nasci, já a população da minha terra pisava os palcos, inclusive os meus tios. Por isso, sempre vivi numa atmosfera em que se falava e onde se fazia teatro. Entrei para o “Lírios do Neiva” com 12 anos e nunca mais parei. Já fui actor, sou encenador e, mais recentemente, comecei a escrever peças para o grupo trabalhar e representar.

Como actor quais foram as peças que mais gozo lhe deram representar?
Não carecendo do nome das peças, os papéis que mais prazer me deram foi fazer de mulher. Até 1998, o nosso grupo era, exclusivamente, formado por homens e alguém tinha que desempenhar o papel feminino. A mim calhava-me muitas vezes essa função, o que me dava muito gozo. Punha em prática a transformação que se pode fazer em cima dos palcos.

Porquê um grupo unicamente masculino?
Antigamente homens e mulheres faziam actividades em separado. A junção entre os dois era muito mal vista pela sociedade. Na minha opinião era um completo atraso de vida e de desigualdade de direitos também.

Mas só em 2008, quase em pleno séc. XXI é que apareceram as primeiras mulheres no grupo…
Sim. Estava na altura de mudar.  Era  uma  parvoíce  continuar  com  um  grupo  só  de homens.  Nesse  sentido,  convidei  duas  jovens  para  integrarem  o  elenco.  Marta  Correia  e  Ermelinda  Correia  foram  as  pioneiras.

Prefere ser encenador ou actor?
Apesar de, em número de anos ter mais experiência como actor, prefiro encenar. Esse papel foi-me delegado pelo antigo encenador Domingos Maciel. Com ele aprendi muita coisa, visto que não tenho qualquer formação  nesta  área.  É  um trabalho que faço por paixão e  que  espero  continuar  a fazer.

Usa alguma técnica em especial para encenar uma peça?
Como já tinha referido, não tenho qualquer formação na área teatral. Normalmente, pego no texto, leio e releio, faço as alterações que tenho a fazer e entrego ao grupo para ser trabalhado. Já em cima do palco tento fazer com que a dicção dos actores seja a melhor.
No teatro é essencial uma voz límpida e que se entenda perfeitamente.
Qual foi o melhor trabalho que realizou até hoje?
Como encenador gostei de todos, obviamente. Também tenho um elenco bastante forte composto por 20 elementos. Posso contar sempre com eles e eles comigo. Para além de encenador tento ser amigo e confidente, algo que une e reforça o grupo. Em termos de visibilidade e que nos deixou mais conhecidos no concelho foi, sem dúvida, a “Paixão de Cristo”, que temos representado na Páscoa.

Como grupo amador que são, quais são as maiores dificuldades que enfrentam?
Vivemos à sombra da Associação Cultural, Recreativa e Desportiva do Lírio do Neiva, que nos apoia. A Câmara também nos tem ajudado em termos monetários. Contudo, temos que trabalhar muito para que uma peça suba ao palco. Se formos a pensar no que gastamos em cenário, roupas ou caracterização, não chegam 500€ para o efeito.

Como nasceu essa vontade da escrita?
Escrevi a comédia “Tesoura de um Barbeiro” o ano passado, agora vão começar a ensaiar “O Drama do Ultramar” e já tenho em mente a “A concorrência Desleal”. Se as outras pessoas podem escrever, porque é que eu não posso? Para mim era um sonho ser capaz de escrever uma peça para o meu grupo. O ano passado decidi-me e consegui.
A peça já está em cena desde Janeiro e a reacção tanto dos actores, como da população de Durrães não poderia ter sido melhor. A minha ideia é escrever peças baseadas em histórias reais.

Este ano o grupo completa 75 anos de existência. Qual o segredo para manter um grupo durante tantos anos?
Como qualquer história o “Lírios do Neiva” teve altos e baixos. Começou com um grupo de 5 rapazes nos anos 30, que na altura faziam parte da Acção Católica. Na década de 60, 70, a Guerra do Ultramar veio estragar um pouco o percurso, mas depois tudo voltou ao normal. Os segredos são, sem dúvida, as pessoas que formam o grupo e os espectadores que nos vão aplaudir.

Quais os projectos futuros?
Para já estamos a realizar actividades comemorativas dos 75 anos que irão decorrer até ao final do ano e esperamos levar ainda este ano a “Guerra do Ultramar” ao palco.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
21 de Mai de 2008 0

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