Fechar menu

“Demos o primeiro brinquedo a muitas crianças”

Miguel Henriques, presidente do Rotary Clube de Barcelos

Em Cabo Verde, Miguel Henriques encontrou uma aldeia pejada de carências.

Em Janeiro, Miguel Henriques e José Manuel Cardoso, presidente e secretário do Rotary Clube de Barcelos, viajaram para Cabo Verde até à comunidade de Baía, uma aldeia que está a ser alvo de um projecto de intervenção da responsabilidade do rotary barcelense, em parceria com o Rotary Clube Maria Pia da Praia.

Como caracteriza a experiência?
Foram momentos realmente únicos. É bom chegar a um local cheio de carências e proporcionar algum conforto e alegria. Foi uma experiência ímpar e tanto eu como o secretário do clube ficámos bastante sensibilizados com a causa, regressámos com vontade de dar continuidade ao projecto.

Era importante ir ao terreno?
Sem dúvida. Antes de partir, tínhamos um conhecimento muito diminuto da comunidade. O clube parceiro enviou-nos um relatório e diversas fotografias, mas eram elementos isolados, não permitiam ter uma noção real do todo. Só quando lá chegamos é que nos apercebemos da realidade e o quanto era importante a nossa acção. Foi um impacto muito forte, a diferença é abismal.

Há assim tantas carências?
Sim, as carências são muitas: não há luz eléctrica, a água é levada à população por um camião-cisterna, as infra-estruturas necessitam de obras urgentes, as estradas são de terra batida, as casas são feitas em tijolo e os cuidados de saúde são praticamente nulos. Há até carências a nível alimentar, as crianças dependem muito da refeição quente que é dada na escola. E, se não fosse isso, não haveria tanta frequência à escola, as crianças vão sobretudo pela alimentação.

Agora qual é o próximo passo?
Foi feito um levantamento das principais necessidades, agora vamos estabelecer prioridades, ou seja, vamos decidir o que é mais exequível e o que pode ser concretizado a curto prazo, para que a comunidade continue motivada e não deixe de acreditar no projecto. Estamos a pensar arrancar com as obras na escola para dar já algum bem-estar às crianças. Estamos a estabelecer mais parcerias e a preparar acções para arrecadar receitas. A candidatura a fundos do Rotary Internacional também já está a ser elaborada.

O que é que o impressionou mais?
O momento da entrega de presentes. Não quisemos ir ao local e não praticar nenhuma acção imediata, era importante para criar empatia com a população. Levámos roupa, chapéus e brinquedos e sentimos o retorno daquelas pessoas. Demos o primeiro brinquedo a muitas crianças.

Gostaram da receptividade?
O povo cabo-verdiano é, por natureza, hospitaleiro, sabe receber e não se coíbe de demonstrar afectividade. Têm uma ligação muito forte com os portugueses, estão informados e gostam de saber coisas sobre Portugal, nomeadamente a nível desportivo. Fomos recebidos pelas “Batucadeiras da Baía” e pelo presidente do centro comunitário, que agradeceu a nossa presença. Têm muitas carências, mas conseguem transmitir alegria.

São felizes com pouco, é isso?
Sim, é um facto. Vivem na carência e, no entanto, contentam-se com pouco e são felizes com o que têm, enquanto que nós, que vivemos numa sociedade mais abastada, parecemos sempre insatisfeitos.

Numa altura em que se fala tanto de crise, qual é o papel da solidariedade?
Neste cenário de crise, as instituições de solidariedade ou de serviço à comunidade são cada vez mais solicitadas, pois as carências são cada vez maiores, há mais desemprego e maiores necessidades sociais. É cada vez mais importante a intervenção das instituições, mas por outro lado também é cada vez mais difícil arrecadar dinheiro para ajudar.

Que balanço faz da experiência de presidir o Clube de Barcelos?
Até assumir a presidência do clube não fazia ideia da dimensão do movimento rotário e do trabalho que implicava. Quando começamos a reatar contactos no estrangeiro é que me fui apercebendo da grandeza do movimento. A ida a Cabo Verde foi um dos momentos mais marcantes deste ano rotário, aí senti a força do que é estar integrado num movimento desta abrangência. Tem sido uma experiência muito positiva, sinto que tenho crescido como ser humano.

A aldeia de Baía, no interior do concelho de S. Domingos, é um povoado com cerca de 85 famílias, que vivem sobretudo da agricultura, da apanha de areia e de uma pesca incipiente. Problemas ambientais agudos, habitações degradas, falta de electrificação e de água canalizada são algumas das carências mais vísiveis.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
06 de Mar de 2009 0

Outras artigos

desenvolvido por aznegocios.pt