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"Não há contrapartidas que paguem o chão sagrado"

Arlindo Vila Chã, presidente da Junta de Palme

A terra para a população de Palme é sagrada. Quem lhe tirar o naco que herdou dos seus antepassados, tira-lhe a vida. A chegada do aterro para um lugar de onde brota a água para todas as terras de lavradio é um crime para os camponeses.

O presidente da Junta de Palme é social-democrata, mas primeiro é agricultor, e não quer abdicar dessa condição de vida. Acredita que se Reis não proteger o seu povo, Palme não votará no PSD.

O aterro vem para Barcelos. Acha que há outros locais para o localizar?
Sem dúvida. É do conhecimento público que foram estudados vários locais, mas ficaram todos na gaveta. Há locais mortos, cuja terra nada dá, e não foram analisados. Mas foram logo apontar para um lugar fértil, uma das manchas florestais mais ricas do norte do país.

Quais os verdadeiros impactes ambientais?
O local dá água para mais de 500 hectares de regadio, dos quais vivem milhares de pessoas. Se em Junho já não corre água de forma abundante, com o aterro qual será o futuro desta gente que vive da terra? Depois são entre 50 e 60 hectares de floresta que desaparecerão para se instalar o aterro: são milhares de árvores de grande porte.
Escolheram o lugar pela proximidade de Viana do Castelo. E ainda há os factores económicos. Já em 1996, quando se falava no aterro, vários casais procuraram outras freguesias para viver. Há empreendimentos na construção civil que pararam porque ninguém compra uma casa à beira de um aterro. Diminuiu o número de pessoas do Porto e de outras cidades que procuram Palme para terem a sua casa de férias.

O seu colega de Santa Leocádia aceita-o desde que receba contrapartidas. Também colocaria essa possibilidade?
Nunca aceitaremos o aterro. É uma questão sagrada. O local equivale ao Monte das Oliveiras. A terra é sagrada para aquela gente. Não há contrapartidas que paguem o chão sagrado.

O CDS/PP de Barcelos propõe um referendo no concelho para que se determine a freguesia onde o aterro deveria ficar. Que acha dessa ideia?
Estou de acordo, se se fizer um referendo em cada freguesia. Aquela que quiser receber as mais-valias (contrapartidas) que a Resulima diz existirem para a população, como a criação de empregos, essa freguesia que assuma o aterro.

Não receia pelas retaliações que o PSD possa exercer sobre o futuro da sua vida política?
Não. Isto é uma questão cívica e não política da qual não abdicarei.

Fernando Reis já o tentou convencer alguma vez de que não haveria riscos para o meio ambiente?
Marquei uma audiência com o senhor presidente da Câmara. Aguardo a data.

No dia a seguir à manifestação esteve reunido com o presidente da Câmara na sede do partido. Reis pediu-lhe que recuasse na sua luta ou ofereceu-lhe contrapartidas?
Estavam muitos companheiros. Falaram e criticaram o povo de Palme. Eu disse-lhes que não abdicamos da nossa luta. Chamaram-nos revolucionários. Eu respondi-lhes que entre as milhares de pessoas que estiveram na manifestação, muitas, mas muitas centenas, eram do PSD.

Acha que nas próximas eleições o povo vai votar no PSD?
Pode acontecer por retaliação. O povo de Palme é inteligente e sabe diferenciar as pessoas. Porque é que Reis defendeu Barqueiros, Vila Seca e Milhazes na questão dos caulinos, e não defende Palme se o povo lhe pede isso? O povo quer ter a protecção do presidente da Câmara e não a rebelião.

Esta luta vai ser longa. Acha que a freguesia vai manter a sua resistência e chegar até às últimas  consequências como já disse?
Não tenho dúvidas.

Que lutas são essas que estão por trás dessa ameaça a que chama últimas consequências?
Chegar aos tribunais portugueses, à Comissão Europeia e ao Tribunal Europeu.

Vêm aí as autárquicas. Acha que Palme e as restantes freguesias vão continuar a confiar no actual presidente da Câmara?
O povo decidirá na altura. Se sentir que o presidente está do seu lado, continuará a confiar nele. Senão, não estará do seu lado.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
12 de Mar de 2009 0

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