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“Sou totalmente contra a reversão da reforma das freguesias”

Carlos Reis, candidato barcelense a deputado pelo PSD

Entrevista na íntegra a Carlos Reis, candidato a deputado pelo PSD.

Carlos Reis, 35 anos, ocupa o melhor lugar de sempre (4º) de um barcelense candidato do PSD pelo círculo eleitoral de Braga, nas Legislativas de 6 de Outubro. Em entrevista exclusiva ao Barcelos Popular, o filho do antigo presidente da Câmara, Fernando Reis, diz que Barcelos tem freguesias a mais e aponta os dossiers do novo hospital, da Linha de Muito Alta Tensão, do rio Cávado e da electrificação da Linha ferroviária do Minho como os mais importantes para o concelho.

 

PERFIL

Carlos Reis foi presidente da Associação de Estudantes da Universidade Católica do Porto e todas as Católicas do país, até aos 22 anos; foi presidente da JSD distrital de Braga; é membro do Conselho Nacional do PSD.

Formação em Direito, especialidade em Contratação Pública, mestrando em Direito Público Internacional.

Profissionalmente criou empresas em áreas como a indústria automóvel e certificação da parte desportiva e de lazer. Nos últimos dez anos é às empresas que se dedica.

Nunca exerceu cargos públicos remunerados.   

 

 

Por que decidiu ser candidato por Braga, quando os círculos eleitorais que lhe estavam destinados seriam Lisboa e Porto?

Sendo indicação nacional, naturalmente poderia ter ido por outro distrito que não Braga. O dr. Rui Rio e a direcção nacional entenderam que eu era mais-valia em Braga do que seria no Porto ou em Lisboa, pela ligação profissional e de residência que tenho quer num ou noutro. Além de ter tido um passado como dirigente em Braga, o presidente da distrital queria fazer uma lista em que não houvesse os chamados “paraquedistas”, pessoas de outros distritos. Eu tenho essa ligação, tenho negócios aqui em Barcelos, venho cá todas as semanas.  

Temos uma lista de proximidade e de representatividade distrital, de acordo com um conjunto de critérios que foram aprovados na Comissão Política distrital, que fizeram com que isto fosse possível.

 

Então não ficou surpreendido por não ser convidado pela Concelhia? |Joel Sá foi o indicado|. A sua indicação não criou mal-estar por a sua indicação “empurrar” Joel Sá para 10º?

Não pode criar porque é a melhor representação de sempre do PSD em Barcelos. Primeiro, porque nunca houve uma indicação nacional de um barcelense, e depois a minha indicação não prejudicou a da Concelhia, porque os critérios aprovados na Comissão Política distrital são aprovados por unanimidade. Repare, o André Coelho Lima é de Guimarães, é cabeça-de-lista, e o Emídio Guerreiro, que é deputado, vai no lugar pelo qual estamos a lutar a eleição, a de 7º, 8º. Não acho que haja uma relação entre o que aconteceu com a Concelhia e a minha indicação nacional.

 

Mas o Joel Sá vai num lugar em que praticamente não terá hipóteses de ser eleito.

Vai no mesmo que há quatro anos…

 

Mas há quatro anos o PSD estava coligado com o CDS.

Sim, e a minha expectativa era a de que Barcelos fosse no 8º. Agora, eu gosto de olhar para as coisas de forma positiva: um 4º e um 10º lugar para Barcelos corresponde à melhor representação de sempre. Há oito anos, fui indicado para deputado, o meu nome foi retirado das listas, não fiquei agradado, mas não fiz este estardalhaço público que se fez a nível nacional. Na altura, a Comissão Política distrital da JSD não queria fazer campanha e sabe o que eu fiz? Aceitei ser director de campanha para dar o exemplo, senão não havia campanha jovem. Nestas alturas há que aceitar a política como um jogo de opções.

 

Fazendo vida sobretudo no Porto e Lisboa, não se vai sentir um peixe fora da água quando tiver de tratar de assuntos do distrito?

Peixe fora da água? Não. O responsável pela equipa logística foi meu vice-presidente na distrital, o mandatário digital foi meu secretário-geral, alguns presidentes de Concelhia estiveram comigo na comissão política distrital.

 

Domina, então, os principais temas do distrito?

Sendo indicação nacional, a minha principal prioridade foi perceber aquele que teria de ser o nosso discurso a nível nacional, e sendo de Barcelos, ter dois ou três temas que acho que são importantes. Quem for deputado com alguma ligação a Barcelos, que é o meu caso, não pode fugir à discussão do Hospital, da Linha de Muito Alta Tensão, a questão da navegabilidade do rio para desporto e lazer. E depois há a questão de electrificação da Linha ferroviária do Minho, que não resolveu o problema da supressão das passagens de nível, que acho que no século XXI é uma coisa incrível.  

 

A nível nacional quais são os temas do vosso programa que mais diferencia o PSD do PS?

A reforma do sistema político, saúde, justiça, economia e ambiente. Na economia propomos a descida do IVA da luz e do gás, de 23 para 6%. Na justiça, a recomposição do Conselho Superior do Ministério Público, com maioria de não magistrados e que não tenham exercido cargos políticos ultimamente acho fundamental para uma maior transparência e independência do sistema. A reorganização dos tribunais, com a figura do “CEO”, um gestor do tribunal que venha substituir, no fundo, a gestão do juiz-presidente e que aplique na parte burocrática e administrativa um tipo de controlo da despesa e de gestão corrente que seja mais eficaz. Na parte do abono pré-natal de ajuda às famílias, o PSD propõe, contrariamente ao que acontece hoje, que é calculado até a pouco mais de 9 mil euros, a duplicação desse valor para que um casal que faça uma declaração com o salário mínimo nacional possa ter direito ao abono pré-natal. Para a sustentabilidade da segurança social, defendemos prestações complementares que um cidadão pode ir fazendo para aumentar a sua reforma. No fundo, cria-se uma conta pessoal de cada pensionista, que pode ir reforçando ao longo da sua vida de trabalho. E há outra medida que aumenta a idade da reforma, mas de uma forma em que cada pensionista gere a altura em que para de trabalhar, reduzindo o tempo que trabalha, um dia ou dois, ou umas tardes. Automaticamente reforma-se mais tarde, mas também mantém a sua vida activa até mais tarde, mas sem se reformar abruptamente.

Na parte do ambiente, há uma medida particular da minha área profissional, que já vai sendo usada, mas não é obrigatória, que é a inclusão de um critério ambiental nos concursos públicos. Por exemplo, vai-se fornecer “x” material para as escolas e vai-se dar prioridade às empresas que não utilizem plástico.

Mas a maior dificuldade que o PSD tem tido para falar destes temas tem a ver com a percepção pública de que o PS e a geringonça com a frente de esquerda que o apoia no Parlamento, fizeram um bom mandato. E essa percepção de que as coisas até correram bem é uma desconstrução que temos que fazer, porque, ao lado disto, há o pior investimento público de sempre, a maior carga fiscal de sempre e uma degradação dos serviços públicos como nunca antes vimos. Eu utilizo o comboio e os comboios estão um caos. Na saúde, nunca houve tantas notícias sobre falta de condições para as pessoas serem servidas nos hospitais.

 

E por que é que acha que as pessoas têm essa percepção de que o mandato do PS foi bom?

Há por causa de alguma acalmia social que existe e também havia uma expectativa muito baixa sobre o PS. E depois há a devolução de rendimentos às pessoas, mas ao mesmo tempo um aumento enorme de impostos indirectos. É uma falsa sensação de que as coisas melhoraram.  Acho que foram quatro anos perdidos.

 

E acha que ainda vão a tempo desse volte-face, ou o PSD vai mesmo ter o pior resultado de sempre?

Nas Eleições Europeias, quando PSD estava nas sondagens quase encostado ao PS, aconteceu aquele episódio dos professores. E acabámos por ter menos oito pontos do que o que tínhamos nessa sondagem. E no espaço de um mês. Portanto, em política as coisas mudam muito. Se não acreditasse que neste mês que nos falta pudéssemos fazer uma recuperação para ganhar as eleições, não estava aqui consigo. Há quatro anos, era uma miragem o PSD ganhar as eleições e depois, em coligação com o CDS, acabámos por ganhar. Não acho que se deva olhar para estas eleições como um passeio no parque para o dr. António Costa. Aliás, acho que se fosse um passeio no parque, ele não começava a prometer aquilo que já começou a prometer, nomeadamente erradicar a pobreza. Uma coisa notável, em pleno século XXI, uma promessa desse género, tão objectiva.

 

Conta com o apoio da Concelhia? José Novais já falou consigo, ou apenas o seu amigo Mário Constantino? O PSD Barcelos vai participar nas suas acções de campanha?

O presidente da comissão política não só vai participar como é o director de campanha. Para além do eng. Novais, vão estar os vereadores Mário Constantino e Maria Carvalho, o Joel Sá e a eng. Otília, penso eu.

 

Que avaliação faz do trabalho de Joel Sá no Parlamento?

Não me cabe a mim avaliar. Não acompanhei semanalmente ou mensalmente o trabalho do deputado Joel Sá, mas acho que tem um mandato positivo. Mas é-me difícil. Com que critério eu posso avaliar o mandato de um deputado? A assiduidade, a influência política, a renovação do mandato, a quantidade de documentos produzidos?

 

Que critérios vai usar daqui a quatro anos para fazer a sua própria avaliação? Que tipo de deputado quer ser?

Sendo indicação nacional tenho que ser um deputado que consiga levar para o Parlamento as linhas gerais do partido. Posso sentir-me mais confortável com elas ou menos, e aí ou me adapto ou estou em posições que me sinta mais confortável, não ferindo os meus princípios. Portanto, além de uma atenção especial a Barcelos, tenho que ser um deputado que defenda o programa do partido.

 

Os melhores lugares de barcelenses em listas do PSD foram, curiosamente, dos dois filhos de Fernando Reis. Isso quer dizer que o seu pai continua a ter peso político no partido?

Acho que o meu pai é uma pessoa muito respeitada no PSD. Mas naquilo que foi a minha escolha, já várias pessoas fizeram questão de dizer que tem muito a ver com o tipo de ajuda e de identificação de problemas que houve durante este mandato da Comissão Política nacional, em que estivemos disponíveis para ser solidários. E essa questão deve ser esclarecida. No Congresso de Espinho, há quatro anos, decidi encabeçar uma lista ao Conselho Nacional e já na altura tivemos um resultado interessante. O objectivo era positivamente influenciar a vida do partido. Depois das directas Rio/Santana, entendi, e fiz questão de dizer na altura ao Pedro Santana Lopes, que apoiei com muita convicção, que não concordava com uma lista única para o Conselho Nacional e entendia que éramos mais úteis em duas listas. Ele não entendeu assim e eu repeti a lista ao Conselho Nacional, e penso que foi a primeira vez que a lista do líder eleito não teve maioria. E no final desse Conselho Nacional, com o grande resultado que obtivemos, tínhamos duas opções: ou fazíamos a vida negra ao líder, como alguns gostam de fazer, ou tínhamos o sentido de responsabilidade e entendíamos que seríamos importantes para o mandato de Rui Rio. E optámos por uma colaboração com a direcção. As pessoas reduzem ao momento em que nós fomos decisivos na moção de confiança, mas há um passado. Votamos a favor o nome de José Silvano em substituição do então secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte. Depois, o presidente do partido levou ao Conselho Nacional uma série de mudanças internas estruturais, nomeadamente a alteração do regimento, do regulamento disciplinar e do regulamento financeiro e votámos sempre a favor. Portanto, há esta colaboração, e um peso efectivo que temos.

 

Por isso que há quem diga que a sua indicação para deputado tem a ver com isso, que tem a liderança de Rui Rio na mão.

Não. Isso até nem bate muito bem com a forma como o dr. Rui Rio faz política. Ele quando ganhou disse que iria contar com todos aqueles que apoiaram convictamente o Pedro Santana Lopes. Enquadro-me perfeitamente nesse perfil. E também nunca falei com o presidente do partido sobre lugares, até ser convidado.

 

Há quem diga que a liderança de Rui Rio tem sido mais feroz com os opositores internos do que com António Costa. Concorda?

Concordo que se perdeu muito tempo a falar sobre questões internas e isso também tem a ver com as pessoas que fazem oposição interna no partido. Quanto mais o líder for atacado dentro do partido, mais ele vai perder tempo e mais problemas interno vamos ter. Eu nisso sou muito disciplinado. Sou uma pessoa que faz as suas rupturas, mas espera os momentos que são adequados, que diz as coisas dentro dos órgãos do partido. Acho que há regras dentro dos partidos, que são claras para todos, e nós não podemos achar que as regras se devem subverter consoante a nossa posição pessoal.

 

Há três temas que estão na agenda de Barcelos e que dependem do Governo: a Linha de Muito Alta Tensão, a construção do novo Hospital e a revisão da reforma das freguesias. Qual a sua posição?

Sobre a Alta Tensão não vou falar porque o PSD Barcelos tem uma posição sobre isso e vou deixar esse tema para a Comissão Política. Mas vou fazer uma vista em Fornelos, Perelhal, Cossourado e Macieira. Sobre o Hospital, acho que qualquer cidadão que o conheça percebe que um equipamento daqueles que serve Barcelos e Esposende não tem condições para ter este tipo de edifício, ainda para mais perdendo as valências que já perdeu. Se me perguntar se acho que novo hospital particular vem resolver o problema da saúde em Barcelos? Com certeza que não. O novo hospital público é um sonho justo e adiado para os barcelenses.

 

Por que é que os sucessivos Governos não têm retirado o novo hospital do papel?

O novo hospital já esteve perto de acontecer, entretanto o PSD perdeu as eleições em Barcelos e depois há todo um caminho que foi feito. Não culpo o PSD dos mandatos da troika por não fazer um investimento público do novo hospital, porque foi um caso de emergência nacional. Agora há condições para pressionar o Governo? Há. Se o negócio dos terrenos já estivesse feito, se a Câmara fizesse como algumas no país, que chamou parte do investimento a si para poder pressionar o Governo.

Sobre as freguesias, sei que não é popular o que vou dizer, mas sou totalmente contra a reversão da reforma das freguesias. Acho que o caminho tem de ser o da concentração e do reforço dos poderes centrais para os municípios.   

 

Mas o que é defendido por muitos autarcas e movimentos é a revisão da reforma.

Sim, mas grande parte desses movimentos são incentivados por freguesias que se querem separar e normalmente por autarcas que lideraram essas freguesias. Não acho que seja um tema prioritário para o país. Acho que Barcelos é mais governável quanto mais freguesias tiver concentradas.

 

Acha que Barcelos tem freguesias a mais.

Não sou só eu que acho. Acha toda a gente. Claro que é preciso respeitar todas as freguesias, a história, o contexto, mas que é difícil governar… não haverá qualquer presidente de Câmara em Barcelos que diga que é mais difícil governar com menos freguesias, porque é mentira. Até pelo número de protagonistas que há, que é muito maior.

 

Os sucessivos governos não têm apostado verdadeiramente em Barcelos, então se formos comparar com os concelhos vizinhos, sobretudo do quadrilátero, com Braga, Famalicão e Guimarães, parece que Barcelos é o parente pobre. Acha que é por falta de poder político municipal ou as escolhas para deputados têm sido mal feitas?

Não é o quadrilátero que se tem distanciado de Barcelos, é Barcelos que se tem distanciado do quadrilátero, fruto da falta de força que tem tido para fazer as suas reivindicações. Basta ver que desse quadrilátero, o que menos concorre a fundos europeus é Barcelos.

 

Mas isso não é só de agora, nem dos executivos PS.

Não queria fazer desta entrevista uma avaliação dos mandatos autárquicos, mas também não tenho problema com isso. Já os deputados não têm uma interferência directa na perda de influência de Barcelos, que acho que tem muito mais a ver com as opções que o Município tomou em termos de investimento, ou não investimento, do que propriamente com a influência dos deputados no Orçamento do Estado. Qual foi a última grande obra que se fez em Barcelos? O estádio, que tem mais de dez anos. Famalicão, Braga e Guimarães tiveram uma renovação de presidentes e todos vieram imprimir alguma dinâmica de diferença. É complicado para mim fazer esta análise, mas não vi ser imprimida uma dinâmica de diferença em Barcelos. Nos projectos em comum, no âmbito do quadrilátero, Barcelos ficou sempre um bocado à margem. 

Já acho que os deputados um dia podem vir a ter essa influência, se fizermos a reforma do sistema político, a redução do número de deputados para um modelo de círculos uninominais com uma quota nacional, com um modelo à alemã, com a uniformização dos mandatos para cinco anos, a limitação de mandatos para deputados. É notável como os deputados conseguiram impor limites de mandatos a outros dirigentes políticos, mas não se impuseram a si próprios. Passam 30 ou 40 anos no Parlamento mas não querem que um presidente da Câmara passe 20 anos numa autarquia. Nessa reforma, o deputado vai ser muito mais responsabilizado, a avaliação será muito mais objectiva e a negociação parlamentar vai ser muito mais interessante.

 

Foi o director de campanha da candidatura de Mário Constantino nas Autárquicas de 2017. O que correu mal para não terem derrotado um PS estilhaçado?

Mário Constantino foi indicado pela secção, em plenário, dia 5 de Maio. As eleições foram a 1 de Outubro. Meta Agosto pelo meio e escolha 61 candidatos às Juntas. Tivemos muito pouco tempo para preparar a campanha e mesmo assim conseguimos ter um programa interessante. Conseguimos devolver algum orgulho à forma como o PSD sempre fez política nas freguesias. Mas para uma pessoa que estava fora da política, como Mário Constantino, há 12 anos, era muito pouco tempo. O presidente de Câmara era-o há muito tempo, tinha um contacto efectivo com os presidentes de Junta e isso conta. Eram armas desiguais. Podíamos ter aproveitado a divisão do PS, mas também precisávamos de tempo para que o movimento independente à direita, o MIB, pudesse ter sido mais namorado pró nós.

 

Para terminar: já foi ouvido pela PJ no caso Tutti Frutti?

Não. Vai fazer um ano e três meses no final do mês, desde que foram feitas as buscas.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
02 de Out de 2019 0

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