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“Que as portas que Abril abriu, nunca mais ninguém as cerre”

Artigo de opinião de Maria Inês Mendanha

O dia 25 de Abril é o meu segundo dia favorito do ano e só perde para o Natal, pelo que é uma derrota muitíssimo honrosa. Se eu fosse nascida na altura e vivesse o seu significado, em vez de apenas o ouvir contar, talvez fosse mesmo o preferido. Mas para qualquer democrata, deve ser um dia muito especial, ou não fosse um dos dias mais marcantes da história contemporânea do nosso país.

Contudo, o 25 de Abril faz 50 anos para o ano que vem; começa a ser uma memória turva, pouco clara. Já aconteceu tanta coisa nos últimos 49 anos que os valores do “dia inicial, inteiro e limpo” começam a desvanecer, ou quiçá, a sair de moda. Ainda assim, o 25 de Abril e os seus valores são hoje tão ou mais importantes do que em 1974.

Será praticamente consensual que a Revolução dos Cravos visava numa primeira instância, libertar o país de uma ditadura caquética, e numa fase posterior, instaurar uma democracia de pleno direito, cumprindo com sucesso os dois objetivos. Contudo, a democracia não é eterna, exige cuidado e manutenção, pois como bem sabemos “quem adormece em democracia, acorda em ditadura”. Façamos um ponto de situação: 49 anos depois, como está a nossa democracia? Temos eleições livres, temos direito universal ao voto e temos liberdade de expressão, mas começam a surgir alguns fantasmas no horizonte, como a abstenção e alguns personagens políticos pouco recomendáveis. Nenhuma democracia sobrevive intacta a constantes escândalos de corrupção e de inação da justiça; senão, aonde pára a igualdade? Prescreveu? E por falar nisso, em termos de igualdade de oportunidades, quando vamos voltar a ligar o elevador social? Estou em crer que vai continuar avariado enquanto tivermos uma monstruosa carga fiscal que se traduz em serviços públicos medíocres e em queda-livre. Não auguro um futuro particularmente brilhante a uma democracia em que os filhos já não vivem melhor que os pais, em que a igualdade ou não existe, ou está nivelada por baixo, aonde a nossa liberdade de viver em Portugal é cada vez mais condicionada e força a minha geração a uma vaga e emigração semelhante à dos anos 60. Porque teimamos em imitar o passado?

Precisamos de proteger a nossa democracia e de reavivar os valores de Abril, ou arriscamo-nos a retroceder meio século. Faz falta providenciar a igualdade de oportunidades, faz falta tratar o rico e o pobre da mesma forma aos olhos da justiça, faz falta libertar os portugueses das amarras fiscais, faz falta dar ao povo serviços públicos de qualidade. No fundo, 49 anos depois, voltamos a ter problemas semelhantes para resolver. A solução de há quase cinco décadas mantém-se válida: é o povo unido por um desígnio comum, quem pode traçar o seu rumo, lutar contra as dificuldades e alcançar os seus objetivos.  Foi assim em 1974 e tem de ser assim agora e sempre. Por último, um desejo de quem gosta do 25 de Abril (e do que sobre ele se escreveu) como se o tivesse vivido na pele: que “as portas que Abril abriu nunca mais ninguém as cerre”.

Opinião

Maria Mendanha
28 de Abr de 2023 0

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