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De Abril a Maio

Artigo de opinião de Pedro Reis

Na última semana comemorou-se o 49º aniversário de duas datas de enorme relevância na democracia portuguesa: o 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974. Se a primeira é o acto fundacional do nosso regime, a segunda, comemorada em liberdade, traduziu-se na expressão máxima da alegria de um povo, com cerca de um milhão de pessoas na rua, só em Lisboa. Seguramente, nunca o povo português esteve tão unido como naquele Dia do Trabalhador.

Nesse dia, Mário Soares, na sua intervenção no Estádio da FNAT, rebatizado como Estádio 1º de Maio, pediu que os algozes do povo português fossem julgados, não por tribunais plenários como os do estado novo, mas por tribunais comuns, em que fossem assegurados todos os direitos de defesa.

Talvez por defeito profissional, entendo ser essa, no campo dos princípios, a principal conquista de Abril e da democracia: o direito universal a um julgamento justo.

Ora, no passado dia 25 de Abril, aquando da recepção na Assembleia da República ao Presidente do Brasil, pudemos comprovar que os derrotados de Revolução dos Cravos têm enorme dificuldade em conviver com estes princípios.

Lula da Silva, que viu as suas condenações serem anuladas pelo Supremo Tribunal do Brasil, pelo facto de não ter tido um julgamento justo, foi insultado de ladrão e corrupto por uma dúzia de javardos que têm lugar na Assembleia da República.

Nem sequer vou pela vergonha de termos visto um chefe de estado estrangeiro, convidado pelo estado português, ser enxovalhado numa cerimónia oficial ocorrida na sede do poder legislativo. 

A questão principal é que essa gente, que só se senta naqueles lugares porque estamos num regime democrático, tem como objectivo a descredibilização do estado e das suas instituições.

São estes, que ressurgem agora em forma de arruaceiros, que querem voltar aos tribunais plenários, às deportações sumárias ou às penas degradantes, julgados por juízes funcionalizados e ao serviço do poder político.

Mas esses indivíduos não seriam um problema se houvesse, efectivamente, um cerco sanitário ao seu redor. Aconteceria como a pisadura: “incha, desincha e passa”...

O drama é que os partidos de direita, nomeadamente o PSD, insistem em deixar a porta aberta a possíveis entendimentos com esses “cavalheiros”, como aconteceu, aliás, no governo dos Açores.

É que a factura a pagar para governar com estes apoios vai ser muito elevada.

Esperemos não assistir ao regresso, pela “porta do cavalo”, dos fantasmas que o nosso conterrâneo e meu amigo Manuel Correia da Silva fez o favor de levar para muito longe na sua chaimite Bula.

Aproveito para deixar uma singela homenagem ao Paulo Hernâni, conhecido como Paulo do Partido Socialista, que nos deixou esta semana. Era o “guardião” da sede do Partido, numa altura em que era muito difícil ser-se Socialista em Barcelos, mas o PS tinha a sua sede na Avenida da Liberdade. 

Descanse em paz, Amigo.

Opinião

Pedro Reis
05 de Mai de 2023 0

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